Óleos essenciais e o Banho de floresta japonês
Como trazer os benefícios do banho de floresta japonês através do uso de óleos essenciais

Primeiramente vamos conhecer de que se trata o banho de floresta. No Japão, já se tem o conhecimento que o contato com a natureza possui propriedades terapêuticas, e isso é tão importante que há até um nome específico para essa prática: Shinrin-yoku. O termo Shinrin-yoku foi cunhado pelo Ministério Japonês de Agricultura, Silvicultura e Pesca em 1982, e pode ser definido como fazer contato e absorver a atmosfera da floresta e, normalmente é traduzido como “banho de floresta”.
Por causa de pesquisas feitas pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar japonês, que identificou que mais de 50% das pessoas avaliaram seu nível de estresse como muito alto e sua saúde baixa, o governo japonês resolveu investir na investigação científica da prática do shinrin-yoku, estimulando os cientistas a estudarem os efeitos terapêuticos da floresta e a relação homem-floresta, procurando assim um respaldo científico à prática do shinrin-yoku.
Assim como consequência, a produção acadêmica sobre os benefícios do contato com a floresta multiplicou-se, promovendo muitas investigações dos benefícios do shinrin-yoku. Dentre eles foram confirmados o aumento da imunidade, redução do ritmo cardíaco, dos níveis de cortisol, da pressão arterial, do estresse, da ansiedade e da depressão entre outros.
Dentre as inúmeras publicações acadêmicas, escolhemos três estudos, que confirmam os benefícios do banho de floresta, conforme apresentamos a seguir:
Estudo 1:
Em 2007, a fim de explorar o efeito do banho de floresta na função imunológica humana, os pesquisadores deste estudo investigaram atividade de células natural killer (NK) (que são células de defesa do sistema imune). Os participantes da pesquisa experienciaram três dias/duas noites na floresta. A comparação entre as medições de amostras de sangue coletadas antes desta imersão num dia normal de trabalho e as medições realizadas no segundo e terceiros dias da imersão mostraram que quase todos os indivíduos (11/12) apresentaram maior atividade de NK após a viagem (aumento de cerca de 50%) em comparação com antes. Em conjunto, esses achados indicaram que o banho de floresta pode aumentar a resposta imune, e que este efeito foi pelo menos parcialmente mediado pelo aumento do número de células NK e pela indução de proteínas anticancerígenas intracelulares (LI et al, 2007).

Estudo 2:
Também em 2007, foi conduzido um estudo, cujos objetivos foram avaliar os efeitos psicológicos do shinrin-yoku em um grande número de participantes (498) e identificar os fatores relacionados a esses efeitos. Foram mensurados, através do uso de escalas específicas para esses fins, diversos parâmetros. Os escores de hostilidade e depressão diminuíram significativamente e as pontuações de vivacidade aumentaram significativamente no dia da floresta comparado com o dia controle. Este estudo revelou que os ambientes florestais são vantajosos no que diz respeito às emoções agudas, especialmente entre aqueles que sofrem estresse e concluiu que caminhar e/ou permanecer na floresta reduziu a hostilidade e a depressão. Esses efeitos não foram causados pelo exercício ou poder participar de atividades favoritas, mas foram devido ao ambiente florestal, o que sugere que os ambientes florestais tem um efeito benéfico na saúde mental (Morita et al, 2007)
Estudo 3:
Este artigo publicado em 2010 revisa pesquisas anteriores sobre os efeitos fisiológicos do Shinrin-yoku, e apresenta novos resultados de experimentos de campo conduzidos em 24 florestas em todo o Japão. Foram 280 indivíduos que participaram deste experimento, conduzido em grupos de doze por vez, onde num dia seis deles ficavam na floresta e os outros seis na cidade e no dia seguinte os que ficaram na cidade ficavam na floresta e vice-versa, com objetivo de fazer uma verificação cruzada. Os índices usados para as medições foram: cortisol salivar, pressão sanguínea, frequência cardíaca e variabilidade da frequência cardíaca, os quais foram medidos em diversos momentos diferentes. Os resultados mostram que os ambientes florestais promovem menores concentrações de cortisol, frequência cardíaca mais baixa, pressão arterial mais baixa, maior atividade do nervo parassimpático e do nervo simpático inferior (PARK et al, 2010).
E onde os óleos essenciais entraram nessas pesquisas?
Com os resultados obtidos nas pesquisas depois da exposição aos chamados banhos de floresta os pesquisadores decidiram investigar quais fatores no ambiente florestal estariam contribuindo para esses resultados, especulando que esses efeitos poderiam ser em razão da inalação dos óleos essenciais presentes no ar das florestas. Assim foram conduzidos diversos estudos com substâncias chamadas fitoncidas, que possuem propriedades de autoproteção da planta e são componentes de óleos essenciais (ex. monoterpenos e sesquiterpenos, como o pineno e o limoneno). Os resultados demonstraram que os mesmos efeitos produzidos pelo “banho de floresta” foram obtidos com a exposição a óleos essenciais contendo essas substâncias. Abaixo relacionamos três estudos.

Estudo 1:
Nesse estudo publicado em 2009, os pesquisadores investigaram o efeito de óleos essenciais de árvores na função imunológica humana em indivíduos saudáveis que para este fim permaneceram três noites num hotel urbano e, para a avaliação, foram coletados sangue e urina, além de aplicados questionários durante o experimento. Durante as três noites, no quarto onde dormiram os participantes da pesquisa, foi difundido óleo essencial de Chamaecyparis obtusa (hinoki em japonês, uma das coníferas mais incidentes naquelas florestas). As principais substâncias encontradas no ar do quarto de hotel (nos diferentes quartos e nos diferentes dias) durante a noite foi o pineno (50%), além de cadineno e limoneno. A exposição a fitoncidas aumentou significativamente a atividade e a porcentagem de células de NK (Natural Killers) e diminuiu as concentrações de adrenalina e noradrenalina na urina (LI et al, 2009).
Estudo 2:
Em 2020, pesquisadores resolveram publicar uma revisão dos artigos já publicados mostrando os efeitos biológicos das fitoncidas incluindo pineno e careno, tendo como principal objetivo obter abordagens mais naturais para induzir o sono, evitando assim os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados para esse fim. Assim, nesse artigo, foi discutido através de processos comportamentais, farmacológicos, eletrofisiológicos e abordagens estruturais o efeito do aumento do sono pelas fitoncidas de pinheiros. Por meio dessas abordagens, foi estabelecido que as principais fitoncidas, incluindo alfa-pineno e 3-careno aumentam a quantidade de NREMS sem afetar a qualidade do sono por prolongar a inibição GABAérgica, sinalizando como um modulador positivo do receptor GABAA BZD. Os autores concluíram que embora outros compostos naturais de várias plantas podem ter um efeito semelhante no sono, com as fitoncidas pode-se ter muitos efeitos benéficos, incluindo ansiolítico, antiestresse com ações simples como caminhar pela floresta, além disso sem os efeitos colaterais que os hipnóticos convencionais como o diazepam e o zolpidem têm, incluindo comprometimento cognitivo, tolerância, insônia rebote após a descontinuação, abuso e dependência (WOO & LEE, 2020).
Estudo 3:
Em 2008 foi publicado um estudo testando efeitos antioxidantes e antimicrobianos de quatro soluções contendo fitoncidas de plantas. Em conclusão, os resultados de vários ensaios inibitórios confirmaram que as soluções de fitoncidas usadas para produzir os efeitos de banho de floresta possuem efeitos antioxidantes, tais como suprimir ou eliminar o oxigênio ativo. Isso também significa o efeito de prevenir a lesão celular, além do efeito tradicionalmente conhecido de redução do estresse e efeitos relaxantes por estimulação parassimpática. As soluções também demonstraram efeitos antimicrobianos significativos (ABE et al, 2008).
Qual a relação dos óleos essenciais de coníferas com o banho de floresta?
Os estudos com as fitoncidas se referiram principalmente ao componente pineno e outros que são mais comuns em pinheiros ou outras coníferas. No Japão as florestas são compostas na sua maior parte de coníferas.

Sobre as coníferas, em seu livro “Ensaios sobre a Aromaterapia Holística”, Malte Hozzel dedicou um capítulo inteiro a elas intitulado “Óleos essenciais de coníferas: pilares poderosos de luz”.
Continuando com as observações do Dr. Malte Hozzel, ele nos lembra que quando o inverno chega muitas árvores da floresta perdem suas folhas, mas as coníferas permanecem fortes e persistentes, elevando-se ao céu espalhando fragrâncias que tornam a respiração mais leve e revigorada. Elas utilizam seus óleos e resinas como usinas de aquecimento geradoras de energia para resistir às temperaturas extremas a que ficam expostas.
A aromaterapia oferece uma ampla variedade de óleos essenciais extraídos de coníferas, com uma variedade de notas aromáticas diferentes, porém todos com personalidade forte e com propriedades de elevar, estimular e revigorar. Eles atuam no sistema nervoso e endócrino, auxiliando a liberar hormônios estimulantes e neurotransmissores (como a noradrenalina, dopamina, vasopressina e outros). Eles clareiam e abrem um espaço interior e são revitalizantes imunológicos.
Os óleos de coníferas nos convidam a respirar fundo e relaxar, seu aroma nos transmite um sentimento de paz, com uma característica de paciência e quietude, porém com um impulso de vitalidade. Como diz o Dr. Malte: “Colunas sempre verdes de saúde, pilares de luz para revitalizar a vida humana na terra”.
Referências:
Abe T, Hisama M, Tanimoto S, Shibayama H, Mihara Y, Nomura M. Antioxidant effects and antimicrobial activites of phytoncide. Biocontrol Science, v.13, n. 1 p. 23-27, 2008 . doi: 10.4265/bio.13.23. PMID: 18432113.
Caminha Junior, L. & Amaral, F. V. Entenda a prática do Shinrin-yoku e seus benefícios para a saúde. A Ciência explica, 2019. Disponível em: http://www.cienciaexplica.com.br/2019/01/10/entenda-a-pratica-do-shinrin-yoku-e-seus-beneficios-para-a-saude/. Acesso em 09/05/2022.
HOZZEL, M. Ensaios sobre a aromaterapia holística. Tradução: Luciana Chamma. Belo Horizonte: Editora Laszlo, 2019.
Li, Q. et al. Forest bathing enhances human natural killer activity and expression of anti-cancer proteins. International Journal of Immunopathology and Pharmacology, v. 20, n.2 (S2), p.3-8, 2007.
Li, Q. et al. Effect of phytoncides from treeson human natural killer cell function. International Journal of Immunopathology and Pharmacology, v. 22, n. 4, p. 951-959, 2009.
Morita, E. et al. Psychological effects of forest environments on healthy adults: Shinrin-yoku (forest-air bathing, walking) as a possible method of stress reduction. Public Health, 121, p. 54-63, 2007. doi:10.1016/j.puhe.2006.05.024
Park, B. J. et al. The physiological effects of Shinrin-yoku (taking in the forest atmosphere or forest bathing): evidence from field experiments in 24 forests across Japan. Environmental Health and Preventive Medicine, n. 15 p. 18-26, 2010. DOI 10.1007/s12199-009-0086-9
SILVA, P. C. da. Banhos de Floresta: Um Roteiro para Experiência da Natureza Terapêutica na Trilha Cariocas e Cânions 2 - Parque Nacional Chapada dos Veadeiros – GO. Monografia. Curso Bacharelado em Gestão Ambiental. Faculdade UnB Planaltina, Universidade de Brasília. Planaltina - DF, 2018.
Woo, J., & Lee, C. J. Sleep-enhancing Effects of Phytoncide Via Behavioral, Electrophysiological, and Molecular Modeling Approaches. Experimental neurobiology, 29(2), 120–129, 2020. https://doi.org/10.5607/en20013
Por Edna Caliari Boni em 23/05/2022