
Óleo essencial de eucalipto glóbulus (Eucalyptus globulus)
Apresentamos a seguir informações referentes ao óleo essencial (OE) de eucalipto glóbulos (Eucalyptus globulus). Todas as informações são baseadas nas bibliografias consultadas que se encontram listadas ao final desta matéria. Apresentamos ainda, diversos estudos científicos sobre as ações deste potencial óleo essencial.
Composição:
Óxidos terpênicos (75-85%): 1,8-cineol (eucaliptol)
Sesquiterpenóis (10%): globulol, ledol
Sesquiterpenos(10%): aromadendreno
Terpenos(10%): pinenos
Propriedades terapêuticas: anticatarral, expectorante, antisséptico atmosférico, antivirótico, antiparasitário, antifúngico, antibacteriano.
O óleo essencial obtido da folha de eucalipto apresenta características que lhe conferem ação terapêutica sobre situações do trato respiratório como a asma, bronquite, tosse e infecções de garganta. Outras aplicações têm sido descritas como exemplo a aplicação tópica em problemas de pele (feridas ou queimaduras), dores musculares, artrite reumatóide e ainda como repelente de insetos. O óleo aumenta a habilidade de absorção da membrana mucosa do trato respiratório e tem efeito regenerador no tecido pulmonar.
Seu principal componente, o 1,8-cineol é melhorador de permeabilidade da pele, descongestionante e antitussígeno, sendo útil no tratamento de bronquite, sinusite, infecções do trato respiratório e condições reumáticas. Tem atividade antinociceptiva, é um potente agente anti-inflamatório com efeito analgésico periférico, além de possuir atividade antimicrobiana e antisséptica.
A aromaterapia com este óleo fortalece o sistema respiratório melhorando as trocas gasosas, promovendo uma assepsia respiratória, relaxando a musculatura brônquica, aliviando a tosse e auxiliando nas expectorações. A via inalatória é a via preferencial para essa finalidade, já que o óleo essencial percorre o trato respiratório com efeito tópico imediato e por absorção na corrente sanguínea posteriormente.
Contraindicações: bebês, gestantes e lactantes e pacientes com histórico de epilepsia ou convulsão não podem utilizar grandes dosagens deste óleo essencial. O 1,8-cineol pode causar agitação ou sonolência, mas somente se for usado em doses exageradas.
Informações adicionais: componentes do eucalipto, como o 1,8-cineol estão contidos em vários medicamentos registrados e utilizados para queixas respiratórias. Na Alemanha o 1,8-cineol está disponível como medicamento licenciado (Soledum) para uso oral para queixas no peito. Em vários países, incluindo o Brasil, é utilizado para problemas respiratórios o medicamento Vick® Vaporub, o qual possui em sua composição o óleo essencial de eucalipto.
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Estudos publicados:
Apresentamos a seguir uma série de estudos científicos publicados em artigos de revistas, em dissertações de mestrado, bem como nos livros e outros materiais consultados. Classificamos os estudos por ações do óleo essencial, sempre citando a fonte onde os mesmos constam.
Atividade antibacteriana, antimicrobiana e antifúngica
Em 2008 houve investigação dos efeitos do OE de eucalipto glóbulus em uma gama de patógenos e bactérias respiratórios e dois vírus (adenovírus e caxumba). Sua maior eficácia se deu contra Haemophilus influenzae, H. parainfluenzae, Stenotrophomonas maltophilia e Streptococcus pneumoniae. Porém sua atividade contra os vírus foi mínima (RHIND,2019).
Também em 2008 foi identificado atividade antimicrobiana com ação contra Propionibacterium acnes, possivelmente devido a presença do gama-terpineno e do alfa-pineno. Em 2011 também foi feito um estudo dos efeitos do OE de eucalipto glóbulus sobre as glândulas sebáceas no controle da acne e foi concluído que ele pode controlar a propagação da acne mediante redução do tamanho da glândulas sebáceas (RHIND,2019).
Foi publicado por Mota et al (2015) estudo sobre os efeitos da papaína, xilitol e Eucalyptus globulus. A clorexidina 0,5% foi usada como referência (controle) para os outros produtos, por ser um agente germicida usado em grande escala nos serviços de assistência à saúde. Observou-se que, dentre as substâncias testadas, apenas o OE de eucalipto apresentou inibição superior à da clore-xidina em relação ao micro-organismo Staphylococus aureus e a mesma inibição em relação aos micro-organismos gram-negativos Escherichia coli, Candida albicans e Proteus vulgaris.
Em 2010 foi publicado estudo onde foram realizados ensaios microbiológicos para avaliar a atividade do OE de eucalipto glóbulus sobre cepas de Candida albicans, Candida tropicalis, Candida guilhermondii e Candida krusei. Todas as cepas de Candida utilizadas neste estudo apresentaram-se sensíveis ao OE de Eucalypto globulus L., causando inibição de crescimento sobre 76,2% das cepas utilizadas no ensaio. Os resultados sugerem que o OE de eucalipto pode ser um promissor antifúngico de origem natural para tratamento de infecções fúngicas localizadas em tecidos bucais(CASTRO et al, 2010).
Na pesquisa publicada por Alves et al(2010) foi realizado ensaio utilizando três OES (Eucalyptus globulus L., Eugenia uniflora L. e Mentha piperita). Todos os óleos essenciais apresentaram atividade bacteriostática sobre as linhagens bacterianas estudadas, com exceção do óleo essencial de Eugenia uniflora L.,
que na concentração estudada não apresentou atividade bacteriostática sobre S. mutans. O OE de Eucalyptus globulus L. apresentou atividade antibacteriana sobre as três cepas avaliadas (Streptococcus mutans, Streptococcus salivarius e Streptococcus mitis.
O óleo essencial de E. globulus inibiu o crescimento de Aspergillus fumigatus e Aspergillus niger, fungos oportunistas que se instalam nos pulmões de pacientes imunocomprometidos, como aqueles com tuberculose (BANSOD et al, 2008). Esse mesmo óleo também apresentou um potencial antifúngico contra outras espécies do mesmo gênero, Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus (VILELA et al., 2009).
Em um estudo conduzido por Malinowski (2010), o OE de eucalipto glóbulus apresentou atividade antifúngica contra todas as espécies de casos clínicos testadas (Candida parapsilosis, Candida pelliculosa, Candida tropicalis, Candida albicans, Candida famata, Candida krusei, Candida glabrata, Candida guilliermondii, Trichosporon beigelii, Trichosporon asahii, Cryptococcus neoformans, Rhodotorula sp., Malassezia pachydermatis), ampliando desta maneira o espectro de ação deste óleo essencial. O OE puro teve ação superior às diluições.
Outros trabalhos também relataram a atividade antibacteriana do óleo essencial de eucalipto glóbulus. O óleo essencial obtido das folhas e dos frutos da espécie apresentou atividade antibacteriana acentuada contra Staphylococcus aureus (MULYANINGSIH et al, 2011). O óleo essencial das folhas também foi capaz de inibir o crescimento de cepas de Helicobater pylori, apresentando CIM de 46,40 (μg/ mL) (ESMAIELI et al, 2012).
Além disso, o efeito repelente/inseticida também é conhecido. Yang et al. (2004) verificaram a ação piolhicida do óleo de E. globulus contra a espécie de piolho humano, Pediculus humanus capitis.
Dor e inflamação:
Um estudo realizado em 2003 indicou atividade analgésica central dosidependente, atividade antinociceptiva e efeitos anti-inflamatórios (RHIND,2019).
Outros estudos realizados em 2000, 2007 e 2013 relataram atividades analgésicas, antinociceptivas e anti-inflamatórias relacionadas ao componente 1,8-cineol (RHIND, 2019).
Problemas respiratórios (infecções respiratórias e da garganta, asma, sinusite) e atividade expectorante:
No ano de 2012 um estudo para verificar o efeito de algumas substâncias no trato respiratório comprovou a eficácia do componente 1,8-cineol como expectorante (BUCKLE, 2019).
Também em 2012 foi realizado um estudo duplo-cego controlado por placebo para explorar os feitos do 1,8-cineol (dado oralmente) para 247 pacientes com asma confirmada que fizeram um tratamento por seis meses, com resultados medidos (medição das funções pulmonares, sintomas de asma e qualidade de vida). Os resultados mostraram que os pacientes que receberam 1,8-cineol tiveram significativamente mais melhora do que os pacientes do grupo placebo (BUCKLE, 2019).
Foi investigado por Holger Sudhoff et al. (2015) o efeito de 1,8-cineol na hipersecreção de muco em culturas de epitélio nasal humano ex vivo. Demonstrou-se que o eucaliptol exibe capacidade para diminuir significativamente os níveis e expressão de genes ligado com o desenvolvimento das doenças respiratórias inflamatórias. O 1,8-cineol atua ainda de forma significativa promovendo uma diminuição da expressão de TNF-α, um dos principais reguladores de rinosinusite. Desta forma, é possível atenuar um sintoma comum à asma, à DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e à rinosinusite: a hipersecreção de muco.
Em 2004 foi realizado estudo duplo-cego randomizado e controlado por placebo sobre os efeitos do 1,8-cineol em 152 pacientes com sinusite. O tratamento durou sete dias, sendo que a partir do quarto dia os sintomas do grupo que estava utilizando o cineol já diminuíram bastante (BUCKLE, 2019).
Em 2011, um ensaio randomizado, duplo-cego e controlado por placebo testou o uso de um spray contendo cinco óleos essenciais (Corymbia citriodora, Eucalyptus globulus, Mentha piperita, Origanum syriacum e Rosmarinus officinalis) em pacientes com infecções no trato respiratório superior em seis clínicas de assistência primária em Israel, tendo o spray composto pelos óleos essenciais sido mais eficaz que o placebo (BUCKLE, 2019).
A efetividade clínica do eucalipto também foi avaliada contra infecções da garganta. Um estudo duplo cego foi realizado com um spray contendo mistura de óleos essenciais de 5 ervas, incluindo o óleo essencial do eucalipto a 10%. Para realização do estudo, 60 participantes que foram selecionados aleatoriamente foram convidados a usar o spray na garganta a cada cinco minutos. Após 20 minutos, os participantes foram avaliados por três sintomas principais (dor de garganta, rouquidão e tosse) e apreciação geral da pulverização (gosto, cheiro, e outras sensações). Após esta avaliação, os participantes foram orientados a aplicar o spray em casa por três dias consecutivos, cinco vezes ao dia. Após os três dias de tratamento, os participantes foram convidados para uma avaliação final, onde foi observado entre 72,0 e 73,1% de melhora clínica dos sintomas debilitantes com 20 min de tratamento e após três dias de tratamento (BEM-ARYE,2011).
Referâncias bibliográficas:
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Por Edna Caliari Boni em 20/07/2020